{Desafio da semana — 18 de Janeiro de 2021}
Afinal, na Idade Média havia ideais!
Ao descer a rua, perto do hipermercado, apercebo-me de que estão poucas pessoas a fazer compras; há pouco trânsito, numa hora em que muitas se aglomerariam no balcão da padaria para comprar o pão que seria consumido à hora do jantar. As bombas de gasolina, junto à superfície comercial, não têm a habitual fila que torna o ar carregado de gazes, devido ao pára-arranca dos automóveis que precisam encher os depósitos para que no dia seguinte iniciem a sua marcha.
Encontro-me numa cidade vazia, mas sinto o renascer da Primavera. Ela está aí, longe do calendário que nos escraviza, mas presente na natureza que nos circunda. Tenho tempo para olhar à volta e observar as árvores invasoras que não se deixam esconder e por isso deixam rebentar as suas flores amareladas, exalando no ar um odor que nos transporta em pensamento até um qualquer Jardim Botânico.
O som do motor do carro retira-me a pulcritude do momento. São os trabalhadores da recolha dos depósitos dos ecopontos, cheios com plástico, vidro e papel. Chego a casa confiante de que algo mudará na humanidade até que entro no mundo da comunicação escrita, e deparo-me com uma notícia no The Guardian, escrita em finais de 2019, pouco antes do início da pandemia, onde se relata que, face à descida do petróleo, muitas empresas preferem aumentar a produção de plástico novo em vez de aproveitarem o plástico para reciclagem. A minha perplexidade aumenta quando leio que o plástico reciclado custa mais 72 dólares por tonelada (cerca de 65 euros) em comparação ao plástico virgem. Apenas, 72 dólares por tonelada!
Numa altura em que o consumo de petróleo continua em baixa, relembro o cenário que tinha visto uma hora antes de me sentar a ler, e recordo a cidade sem trânsito, onde o consumo de combustível baixou significativamente, e penso na razão pela qual as grandes empresas prejudicam o ambiente para ganharem «apenas» uns «centavos», uma pequena soma de dinheiro, em troca de um prejuízo enorme à humanidade, quando rejeitam plástico recolhido para reciclagem e aumentam a produção de plástico novo.
Um salto à Idade Média confirma-me que estamos no caminho errado. A ética religiosa de então impediria os abusos imorais das atuais empresas em relação ao lucro e lembrar-lhes-ia a primazia do princípio moral sobre o princípio económico e a promoção do bem comum, neste caso o ambiente, um bem de todos nós.
Volto à cozinha e empilho umas embalagens de plástico que ficaram esquecidas na última ida ao ecoponto. Deposito-as no contentor amarelo com a esperança de que as tais «leis» de outros tempos façam relembrar aos políticos a pertinência em regularem medidas mais penalizadoras sobre as questões ambientais.
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