Desafio da semana: O livro que me salvou, o livro que me condenou



Começou ontem a série Terra Nova, na RTP1, uma adaptação da obra O Lugre, de Bernardo Santareno, escrita por Artur Ribeiro e Nuno Duarte e realizada por Joaquim Leitão. Foi o primeiro de 13 episódios que, pelo menos por enquanto, serão exibidos semanalmente, à quarta-feira.
As minhas expectativas eram elevadas e não saíram defraudadas. Sempre me senti atraída pelo lado sombrio das terras piscatórias, tanto no ecrã como nos livros.
Um dos pormenores das história que começou a ser-nos contada ontem é a aproximação entre dois miúdos, a Mariana e o Toino. O rapaz é filho de um professor e vai ler para a tasca em que ela trabalha, o que muito a surpreende. E ele, esperto, na primeira oportunidade leva-lhe um livro para lhe emprestar: o Amor de Perdição. Ambos concordam que a leitura é uma estrada aberta para fugir à pequenez do meio em que vivem. É uma companhia. E é uma ponte, vemo-lo nós, entre os dois.

O que me trouxe à memória uma passagem de um livro, Shipping News, de E. Annie Proulx, publicado pela Cavalo de Ferro (também há um filme com base nesta obra e não é nada mau). Logo, pela coincidência do nome Terra Nova, sendo que na série portuguesa é um barco, e no livro de Proulx é a Terra Nova propriamente dita, a ilha agreste do Canadá também conhecida como Terra dos Bacalhaus. Mas não só por isto, também por este reconhecimento do livro como uma fuga, uma companhia, uma ponte para o mundo.
Partilho convosco a página de Shipping News de que estou a falar (o trecho sublinhado).


Ah, os livros e os barcos, claro, recordam-me Bárdur, o pescador que morre de frio a bordo por causa da poesia, em Paraíso e Inferno, de Jón Kalman Stefánsson:

«Maldito impermeável, esqueci-me dele, e Bárdur pragueja, ele pragueja por se ter concentrado desnecessariamente na memorização de versos do Paraíso Perdido [de Milton], tão concentrado que se esqueceu do seu impermeável.»


Aqui fica, então, o desafio desta semana: «O livro que me salvou, o livro que me condenou».

Boas escritas!

Ana Marta Ramos

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