Ana Curto: A porta da minha casa

Ilustração de Laura Crow

A porta da minha casa

A porta branca, retangular,
fica ali parada, à entrada,
envolvida na pedra angular.
Falta-lhe um banco
para eu me sentar.
Tem três vitrais embutidos
que de luz não ficam esquecidos
perdidos entre a rua.
É a certeza de o mundo parar
de casa vez que ousamos entrar.
A chave roda na fechadura
às vezes leve, às vezes dura.
Uma porta grande, possante
guarda os nossos segredos
como os livros numa estante.
A porta da rua
fica ali parada, quieta,
à luz do sol, à luz da lua
— na verdade, quando acesa.
A minha. A tua.
Uma porta branca
como a neve.
Felizmente
não há ninguém
que a leve.

Ana Curto

Comentários